quarta-feira, 8 de maio de 2013

Produção de texto

                                               Vaga de emprego


        Era uma vez... Uma janela, uma cama, um guarda–roupa, uma cômoda com uma TV, dois travesseiros, uma coberta e, embaixo dela, um jovem.

        Seu nome? José Paulo. Sua idade? 25 anos. Sua cor? Negra. Sua formação? Direito. Seu emprego?

-Aí é que está o problema. Mas, ainda considerava-se jovem.

Como já era noite, ele dormiu pensando na entrevista de emprego que teria no outro dia.

       Acordou com o sol batendo no rosto, apressou-se para tomar banho, vestir-se, comer algo e lembrar-se de cuidar com a quina da cômoda na próxima vez que tivesse pressa.

       Saiu às 8:30H para ir ao escritório em que pretendia trabalhar. Esperou, esperou, até não aguentar mais:

- José Paulo, por favor, o senhor já pode entrar. Segunda porta à direita.

       José levantou-se, olhou ao seu redor e notou que estava em um lugar grande, paredes brancas e lá    havia várias pessoas trabalhando. Entrou no corredor, que por sinal, era comprido e cheio de portas. Parou em frente à segunda porta à direita, respirou fundo e lembrou-se dos anos de esforço de sua mãe, pois ela teve de trabalhar bastante para conseguir pagar a faculdade de Direito a qual não é, digamos, um curso muito fácil. Abriu a porta e entrou.

       Meia hora se passou... e:

- OK. Muito obrigado. Ligaremos daqui à uma hora aproximadamente, para lhe informar se o senhor será contratado ou não. Tchau.

-OK. Muito obrigado. Até logo.

       E assim, José Paulo foi para casa. Quando chegou, ligou a televisão para se distrair um pouco. De repente, o telefone toca:

-Alô. Oi. Sim. Entendo. Obrigado, mesmo assim. Então está bem. Obrigado. Tchau.

       Assim, desanimado por não conseguir a vaga, José ligou a TV novamente e, para sua surpresa, pegou o final do comercial do escritório em que fez sua entrevista: “[...] Então traga já seu currículo para o melhor escritório de advocacia do país, agora o salário recebeu um aumento de R$500,00[...]”.

        Foi exatamente a hora em que desligou a TV, cuidou para não bater na quina, e foi dar uma volta pela cidade.

        Quando dobrou a esquina da terceira quadra que passou, viu no meio da avenida um homem atravessando a rua, e um carro vindo em sua direção. Sem pensar, pulou e salvou o homem. Quando viu quem era teve mais uma surpresa, era o homem que o havia entrevistado.

       O entrevistador, todo vermelho, agradeceu-lhe, mas também lhe pediu perdão, redimindo-se, confessou de que não havia nem entregado o seu currículo ao chefe. José perdoou-lhe, e, no mesmo instante, foram ao escritório e o homem corrigiu seu erro.

     José Paulo, 25 anos, negro, emprego? Advogado. Currículo? Premiado por ser o currículo com mais premiações de advogado do mundo. Seu dedo? Nunca mais doeu.

                                            ELOISA MARIA NERES; GÊNERO TEXTUAL: CRÔNICA; 7ª SÉRIE.

                                                
                                                   O patrão Misterioso


        Ele era secreto, não se mostrava a ninguém, era muito bom na área do comércio, dono da Via Passarela, mas ninguém sabia quem era aquele comerciante misterioso.

       Aos domingos, sua loja abria bem cedo com preços liquidados. Um estabelecimento lotado de pessoas correndo pra cá e pra lá. Empresários e jornalistas cercavam o lugar para tentar encontrar o comerciante misterioso, mas sempre falhavam. O comerciante tinha o costume de sair todos os dias da loja vestindo uma fantasia de múmia pelas portas do fundo.

       Certa noite, os jornalistas e os empresários reuniram-se na praça da cidade para bolar um plano, descobrir o comerciante misterioso. Ficaram horas e horas tentando achar uma solução, e, de súbito, um jornalista lá do fundo falou:

     - Vamos nos esconder nas casas ao lado do Via Passarela, assim que a loja fechar, e todos saírem, vamos ficar observando ele sair de seu escritório secreto no fundo da loja, e, em seguida, pegá-lo de surpresa, descobrindo quem é aquele homem.

       Um empresário completou:

      -No próximo domingo, às 18:00 horas, todo mundo que está aqui, tem de estar escondido na vizinhança do Via Passarela.

       Todo mundo concordou.

       Passaram-se alguns dias, até que chegou o grande dia que todos esperavam. Às 18:00 horas em ponto, todos estavam escondidos. Meia hora se passou, e todos já haviam ido embora. Porém, naquele dia, o vendedor resolveu sair pela frente. Quando todos que estavam escondidos viram quem estava abrindo a porta, deram um grito e saíram correndo como quem estava em uma maratona. O comerciante se estourou de dar risadas e falou:

      - Até que essa roupa serviu para alguma coisa.

     E continuou dando risadas.

ANDRÉ LUIZ BENDER SAERTORETTO; PRODUÇÃO DE TEXTO LITERÁRIO A PARTIR DE REPORTAGEM DE JORNAL. 7ª SÉRIE.